sábado, 11 de dezembro de 2010

Aqui vou eu! Afinal, como diz o Paulinho: “as coisas estão no mundo, só o que preciso é aprendê-las”.
Mas não é fácil! Mil gentes falaram, uma amiga chegou a fazer um blog que nunca usei e o Celso Martins, há tempo, vem me atazanando, insistindo que todos têm e também tenho de ter. Um dia me liga, manda que entre na internet e faça assim-assim que já tá lá: Meu blog.
Bicho enxerido que é jornalista! Até nome do blog o Celso inventou: Blog do Raul Longo!
“Quem pensa que é Raul Longo para ser nome de blog?” Não penso nada! Quem pensou foi o Celso. Por mim jamais me meteria nesse assunto, apesar de todo mundo dizer que é fácil.
Fácil pra quem informática não se resume à máquina de escrever e telégrafo sem fio! Mas como já deu pra sentir que da aposentada Olivetti ao computador, a distância se aproxima a das cuneiformes escritas dos sumérios até a datilografia no teclado do italiano Pellegrini Turri (sim, consultar o Google e o Wikipédia também sei); resolvi aderir à evolução insistida pelo amigo. Mas não me acusem de autor intelectual.
Com a arma na mão, fiquei matutando. “E que crime cometo agora?”
Pra não desperdiçar munição, pedi pro Celso mesmo reciclar uns chumbinhos que andei disparando num abusado que se meteu a querer sujar o laguinho daqui da comunidade, só pra reafirmar desaforos. Mas depois da temporada de caça ao Eike Batista, com a grita do povo o galalau se escafedeu para outros confins e fiquei sem em quem praticar a mira. Ainda sem saber como recarregar o blog me deixei de tocaia, procurando bicho de maior porte, caça de mais sustança. Pensei até em deflagrar uma guerra geral, mas nesse meio tempo um australiano ousado tomou minha dianteira com um tal WikiLeaks que transformou a incipiente winchester do meu blog num papo-amarelo. Apesar de também saber como se consulta os dicionários, concluí que com essa hoploteca -- (arsenal, segundo o Houaiss, mas o Aurélio não registra. Ou um inventa ou o outro era analfabeto) -- mal chego a Stanley Burburinho. Quanto mais a Julian Assange!
Daí que fiquei vagando, moscando na mira, buscando um alvo, assuntando, rastreando... E achei! VOCÊ!
É! VOCÊ mesmo! Ou tem outro lendo por cima do seu cangote? Alguém que chamou pra ler esse maluco, tarado que sem mais aquela tá te apontando um blog carregado?!! Se tiver outro aí contigo, perderam os dois!
Consciência ao alto que daqui pra frente meu assunto é contigo! Cansei de caça magra, raquítica! Essa gente pequena de carne dura e insípida. Cansei da rigidez de opiniões formadas por leituras de bula de remédio pra asma da alma e manual de instrução para consciências de laboratório midiático. Quem gosta de roer casco de tartaruga é jacaré e telespectador da Globo e do SBT. Eu quero é carne fresca, tenra, viva. Qualquer coisa que pulse! Exista por moto próprio!
Essa caça em que andei desperdiçando chumbo grosso pelos blogs de amigos e companheiros, era só por esporte, passatempo. Carne venosa, não serve pra consumo. Intoxica!
Então agora é com você mesmo!
Só que temos de fazer um trato: eu te caço, mas você é quem vai ter de me digerir. Vai ter de me mastigar com muita paciência, aprender dos meus sabores, reclamar do tempero, da consistência, textura e tudo mais.
Aí vai engolir pedacinho a pedacinho, palavra por palavra, parágrafo a parágrafo. Pode vomitar a vontade, tudo o que quiser! Ainda não sei como é se que faz isso e é você que vai ter de me ensinar o jeito para que você mesmo possa escrever direto pro blog. Vai ter de me ensinar tudo e com muita paciência, muita calma. Nada de bancar o afobadinho!
Não se esqueça de que não sei lidar com ela, mas sou quem tem a arma na mão. É como se dissessem: “- A grana ou a vida!” e você mais que depressa fosse logo passando a carteira, mas o assaltante exige que tenha calma, vá devagar e carregue o revólver, direcione a mira porque ele não enxerga, não sabe exatamente em que posição e direção você está.
Por mera vaidade você iria se aproveitar pra inverter a situação? Passar pelo vexame de ser o assaltado roubando assaltante cego? Fala sério!
Aqui é a mesma coisa. Cada um cumpre seu papel como em novela de televisão. Meu núcleo é dos blogueiros e o seu é dos blogados. Mas não se preocupe que seu nome vai aparecer em todos os créditos ao final do capítulo. Disso eu mesmo faço questão!
Até porque se der alguma merda, já vou logo avisando: “A arma tava na minha mão, mas quem atirou foi a vítima!”
Não se preocupe que vai dar certo. Não viu aquele episódio da polícia de São Paulo que devolveu a refém pro bandido? Então! E eu prometo tudo: Ministério da Segurança Pública, bolsa blog triplicada, quantos professores em sala de aula quiser. O único detalhe é que é você quem vai de ter de ensinar, porque já disse que não sei nadica de nada.
É só ficar no seu papel sem jogar bolinha, porque isso de bolsa blog é na base do voluntariado compulsório.
E pra não tentar nenhuma bobagem, além de toda essa explicação do que tem de fazer, até me dei ao trabalho de inserir nessa primeira edição, de exemplo, um texto que produzi sobre o lançamento da biografia do meu amigo Atahaulpa.
Na hipótese de não conhecer o Athaualpa (também não se pode exigir demais), falei um pouco do Chico Buarque de Holanda. Esse você conhece? 
Tem também uma declaração de amor para uma senhora por quem sempre fui apaixonado: a cidade do Rio de Janeiro. E se ainda não sabe, aprenda: pode mexer com a mulher, mas não se meta com as amantes! Respeito é bom e eu gosto.
Pra você ter uma ideia do que poderá e deverá fazer, já pus aí a participação das primeiras vítimas deste blog: as Irmãs Coragem de Curitiba.
Não conhece as Irmãs Coragem? Pois vai ficar conhecendo. E elas vão conhecer você também, já que a ideia é essa mesma. Aqui somos nós e você. Nós, sou eu mesmo, e você é cada leitor. Você que está lendo e quem ainda não leu, mas vai ler porque você vai mandar que leia. Não estou aqui pra ficar perdendo de meu tempo, mas sim pra ocupar do seu divulgando este blog. Use de sua curiosidade e descubra como.
Observe na colaboração das Irmãs Coragem que ao enviarem o link da matéria, sequer sabiam que estariam colaborando com blog nenhum. Internet é isso mesmo:
caiu na rede é peixe.
E apesar da matéria ser do O Globo, o peixe é grande: Oscar Niemayer.
Pois é camarada... Todo mundo tem de se virar! Acabou moleza! Agora até O Globo tem de promover comunista e intelectual de 103 anos de idade virar sambista.  Por isso, mexa essa consciência gorda! Quero ver todo mundo malhando no teclado!
Outra coisa: o blog quem fez foi o Celso Martins, amigo, vizinho e jornalista. Fez de companheiro que é e não posso ficar explorando o rapaz. Então quem vai mudar, dar cara nova, mais personalizada, deixar mais bonito e inventar novidades é você mesmo que não tô aqui pra por azeitona na sua empada.
Não precisa ter pressa! Me escreve, explica direitinho como é que tem de fazer, onde devo clicar, que programa usar. Se eu não tiver, manda o programa também ou diz como consigo. Tudo com muita calma e nada de apavoramento, porque se isso escorrega e dispara mais uma bala perdida, não me responsabilizo.
Por falar em responsabilidade, esse nome que o Celso deu ao blog é muito comprometedor. Como é que me explico, depois?
Então Já tens aí uma tarefa! Arrume outro nome pro blog. Pra não ficar reclamando e dizer que estou sendo muito folgado, dou uma primeira sugestão: NÓS E VOCÊ.
Apesar de que estou no controle da situação, não precisa gostar. É só sugestão. Deixo você decidir e, de preferência, enviar outras sugestões para os outros de vocês decidirem. E sem reclamar  porque esse negócio de decidir não é meu papel.
Eu sou o Nós e não preciso decidir nada! Você é que se vire!
    

O MEU AMIGO ATAHUALPA - e uma pretensa definição de literatura -
No mesmo dia em que recebo pelo correio eletrônico a imprecisa definição de que “literatura é a arte de escolher palavras”, de alguém se pretendendo crítico literário para tentar convencer que Chico Buarque de Holanda não é escritor; também recebo pelo postal a biografia do meu amigo Atahualpa.
Não sei se o meu amigo tem alguma descendência peruana, pois, conforme sua biógrafa, impossível determinar-lhe procedências dadas às insólitas e precárias condições de seu início de vida. Pelas bem definidas sobrancelhas, o vasto bigode e olhar profundo, sempre me fez lembrar Nietzsche, mas nem por isso o definiria de procedência germânica. Até porque nenhum alemão ou austríaco batizaria um filho como o nome de Atahualpa.
Para quem não sabe, Atahualpa é nome muito comum em todos os países de língua espanhola da América do Sul. Ou seja: menos o Brasil e as Guianas. Nós, colonizados pelos portugueses e as Guianas por ingleses, franceses e holandeses, naquela que hoje é conhecida por Suriname.
Talvez exista mais alguém com o nome de Atahualpa aqui no Brasil, além do meu amigo. Mas não conheço.
Provindo do quéchua, Ataw Wallpa foi o nome do mais importante entre os últimos imperadores Incas. Foi traído e aprisionado pelo conquistador espanhol Francisco Pizarro que ardilosamente convidou Atahualpa para um jantar amigável na cidade andina de Cajamarca. Em duas horas os cristãos trucidaram mais de 6 mil incas e Atahualpa foi aprisionado no Templo do Sol.
Em troca de sua liberdade Atahualpa entregou ao espanhol uma enorme quantia em ouro. Tanto, que preencheu o aposento em que era mantido prisioneiro, e ainda deu o dobro daquela quantia em prata. Mas o cristão não manteve a palavra e submeteu Atahualpa à farsa de um julgamento sob 12 acusações pelas quais foi condenado à fogueira.
No momento da execução Atahualpa aceitou o acordo imposto pelo padre Vicente Valverde e permitiu ser batizado como convertido ao deus e à religião católica, para logo em seguida ser executado por estrangulamento.
Isso foi em 26 de julho de 1533, mas não me consta que, apesar do pedido de desculpas aos judeus, algum papa tenha reconhecido os crimes da Igreja contra Incas, Astecas, Tupis, Guaranis ou tantos dos povos dizimados pelo cristianismo.
No entanto, tenho a impressão de que meu amigo Atahualpa está pouco se lixando para os papas. Mais que isso, creio mesmo que apesar da aparência física com o Nietzsche, superou o sábio alemão nesse sentido. Nietzsche costumava declarar que Deus está morto, Atahualpa certamente nunca acreditou na existência desse personagem e tão pouco faz questão de conferir a própria imagem e semelhança a qualquer divindade. Daí me parecer que mesmo que porventura admire a Nietzsche, não procura imitá-lo nem realçar a casual parecença.
Mas voltando ao herói e mártir Atahualpa, tornou-se um arquétipo da resistência sul americana ao colonialismo imposto ao continente ao longo dos últimos 500 anos, justificando os tantos Atahualpas da Patagônia ao Golfo de Urabá, ao norte da Colômbia, onde fazemos divisa com a América Central.
Héctor Roberto Chavero, por exemplo, nascido na província de Buenos Aires em 1908 e falecido em Paris em 1992, adotou como pseudônimo nome e sobrenome de Atahualpa que foi neto de Tupac Yupanqui. Como Atahualpa Yupanqui, Héctor Chavero se fez compositor, cantor, violinista e escritor argentino de renome internacional tal qual o Chico Buarque de Holanda, para desespero do crítico que inadvertidamente me enviaram pela internet.
A mãe de Atahualpa, Tocto Pala, não era inca. Mas por ter sido uma princesa equatoriana, natural de Quito, o nome do herói muito se propagou por aquele país, conforme nos conta o brasileiro Paulo de Carvalho Neto no excelente romance “Meu Tio Atahualpa”, onde reporta com muito humor a sabedoria da cultura popular equatoriana, assimilada quando ali representou o Brasil como diplomata.
Quanto ao Chico Buarque, ouvi dizer que sequer conheceu Budapeste embora um húngaro tenha me garantido que conseguiu reproduzir com muita fidelidade o clima humano da cidade. De fato, pelo menos para quem não conhece aquele trecho do Danúbio nem do lado Buda nem do lado Peste, ou quaisquer das outras margens do famoso rio, descreveu a capital da cultura dos magiares de forma muito convincente.
Mas o crítico não gostou e nem considera literatura. Tudo porque resolveu que Chico escolheu mal as palavras ao afirmar que o personagem do romance tenha assistido “por alto” a um noticiário de TV em idioma desconhecido, conforme explica a história de um fictício escritor que ali aportou por um imprevisto ocorrido durante uma viagem aérea.
Nem mesmo aos nossos noticiários consigo dar atenção, mas o crítico encasquetou que todos têm de levar tão a sério quanto ele as enormes bobagens da TV. Outros, como José Saramago, José Miguel Wisnik, Urariano Mota, Caetano Veloso e Luís Fernando Veríssimo; gostaram muito do Budapeste do Chico. Por certo também não dão muita atenção a TV ou não acreditam que produzir literatura seja apenas escolher palavras.
Seja lá o que for eu é que não seria besta de me pressupor capaz de criar definições para uma arte milenar que compreende tantos gêneros e expressões, inclusive sem palavra alguma como em histórias contadas por gestos, imagens e até por sombras, com conteúdo evidentemente literário.
Por outro lado, muito me orgulho em poder estrear este blog escrevendo sobre a biografia do meu amigo que acaba de ser lançada. Aliás, convém lembrar que Atahualpa também é um grande contador de histórias e a ele não fazem falta as palavras. Na última vez que esteve em minha casa, contou uma história tão intensa e emotiva à minha cachorra Canela que a fez correr pela casa pulando de sofá em sofá, como se estivesse conquistando uma selva.
Duvido que o crítico do Chico produza o mesmo efeito! E a julgar pelos caninos da Canela, seu poder de crítica é bem menos inócuo.
Mas é preciso falar do livro com capa ilustrada por um expressivo close fotográfico do biografado imitando Einstein ao mostrar a língua. Na verdade, ainda não li a obra, mas assim mesmo posso recomendá-la com total segurança e não apenas pela intrigante personalidade do personagem meu amigo como, sobretudo, pela certeza de que a autora não é apenas uma mera escolhedora de palavras, como quem cata arroz carunchado. Nas livrarias ou no portal da Livrarias Curitiba na internet (http://www.livrariascuritiba.com.br/)  consultem sobre o último lançamento de Urda Alice Klueger pela Editora Hemisfério Sul.
Em sua vaidade, Atahualpa não se deixaria contar por ninguém menos e isso também provocou o ciúme de Sandra Tolfo, que confessa: “Eu poderia escrever muita coisa sobre o Atahualpa. Poderia contar de nossas brincadeiras, de quando o ensinei a falar, das poses para as fotos, dos meus lanches divididos com ele, mas... essas memórias tomariam muito espaço”.
É certo que, igualmente, se denota aqui uma ponta de inveja, mas muito compreensível pela intimidade e o carinho da cientista social pelo Atahualpa. Aceitável, pois não se evidencia nenhum despeito, nenhuma dor de cotovelo.
Mas o que dizer do ridículo catador de palavras? Só mesmo escolhendo as do velho lugar comum, pois, enquanto os cães ladram, Atahualpa e Chico Buarque passam.

Às vésperas de seus 103 anos, Oscar Niemeyer se lança como compositor e faz música com Edu Krieger
http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/12/03/as-vesperas-de-seus-103-anos-oscar-niemeyer-se-lanca-como-compositor-faz-musica-com-edu-krieger-923177706.asp
enviado por: Izabel Aparecida Fernandes (do grupo Irmãs Coragem)



MEU SONHO CARIOCA
Amo o Rio
da rua,
da lua,
da morena,
loira, mulata
quase nua.
Da pelada
na praia,
e o grito que
lambe vontades:
“- Olha o picolé!”
Língua gelada
sorvendo imaginações
na espuma do chope
no bar da calçada...
Amo o Rio
nas curvas
das pedras nas calçadas
jogadas
em sinuosas
conversas
de azar e sorte.
Amo o Rio
de sul a norte,
por todas as zonas:
das cálidas à erógenas.
O Rio
do bicho de
cada sonho
de Janeiro,
no verão de
um ano inteiro.
Amo o Rio
das luzes de todas as noites,
e das liberalidades nos escurinhos.
Amo o Rio
mesmo sozinho,
mas mais saudade
tenho de liberalidades
de bronzeadas vaidades.

Entre Corcovado
e Pão de Açucar,
amo o Rio da Gávea à Urca.
Rio do ardente
Flamengo.
Ipanema nem se
fala!
Meier, Cadete.
Escadaria da Penha
e Pça Saenz Pena.
Amo qualquer Rio.
No Leblon
era muito bom,
mas Copacabana,
mentindo recato,
foi a mais sacana!
Amo o Rio
livre
e moleque
na saída da escola,
puxando trancinha
de Marianinha.
Rio menino
querendo atenção
no que mente o coração.
Rio que sobe
e desce
no limite da realidade,
onde a fantasia se estabelece
desenhando avenidas.
Rio de tantas vidas.
E antes que em tudo
se Botafogo,
me despacho aos Engenhos da Rainha,
e me dou à Leopoldina
até que um Cascadura
arrota a Madureira.
Escapo pra
Lapa pagando penitência
no regaço de Sta. Tereza.
Abençoado pecado!
Ah! Meu Rio de tantas certezas
por onde me enganei!
O Rio que eu sei.
Amo o Rio
incerto,
insólito,
onde a vida
é uma alegoria
a desfilar destaques
de uma noite
que não se fez,
num dia que não vem.
Meu Rio que vai
samba e volta harmonia
desce bossa e sobe alegria.
Amo o Rio
que chora
no olho da morena
esperando de março
à fevereiro
por um onipresente
Janeiro
de mornas vontades.
Meu Rio de tantas saudades.
Aquele Rio de todas
as anedotas,
de tantas lorotas.
Rio experto.
Rio otário.
Quem saberá
onde mora a verdade
em tal sonho
de cidade?
Amo o Rio
do asfalto
e do alto,
desenhando anoitecer
quando acabo de acordar
Inventando desanoitecer
na hora de deitar.

Rio fora do fuso horário
que me perde em passos bêbados e trôpego
que me encontra entre praias e aterros.
Túneis e escadarias.
Descaminhos
de intransponíveis lençóis
de Negras escorregadias
gotejando pelas siluetas
dos morros.
Loiras ou morenas defenestradas
- ao alto -
de janelas acenam adeuses
até descobrir-me o anjo torto,
roto e caído.
Lançado ao acaso
da madrugada
que no próximo bar
poderá ser o descanso
na cadeira mulata.
Ou pode ser o nada
do Rio de minha solidão.
O Rio da mágoa
nas tranças de Marianinha.
O Rio no sorriso
maroto
de Marianinha.
Amo todos os Rios!
De Janeiro a janeiro,
de Sul à Norte. 
Amo o Rio
onde madrugada
estala sem bala
e sem medo.
Perdida só a dor
da negra que me ignora
e, degrau a degrau,
pisa em minha ilusão.
Amo o Rio
da escada
de onde diviso
- lá! -
a benção e o abraço
ao encanto Guanabara!
Meu engano Guanabara.
Amo esse Rio
que me comove
a tanto de não
definir
- no sonho -
o bicho que vai dar,
o bicho que vai pegar.
Amo o Rio
do bicho que não deu.
O Rio
de todos os níveis
de meus sonhos
indefiníveis.
Parem com esse
pesadelo!
Preciso saber
em que bicho
jogar.
Parem  com esse
pesadelo!
No abraço do Cristo,
entre o Pão de Açúcar
e o Corcovado,
preciso
delineado o sorriso
entre tranças carapinhas
da menina Marianinha.
Parem com esse
pesadelo
para meu sonho
voar feito pipa,
gaivota
desenhando a paz
do riso da criança
e na esperança
do aposentado.
Parem com esse
azar!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Aqui vou eu! Afinal, como diz o Paulinho: “as coisas estão no mundo, só o que preciso é aprendê-las”.
Mas não é fácil! Mil gentes falaram, uma amiga chegou a fazer um blog que nunca usei e o Celso Martins, há tempo, vem me atazanando, insistindo que todos têm e também tenho de ter. Um dia me liga, manda que entre na internet e faça assim-assim que já tá lá: Meu blog.
Bicho enxerido que é jornalista! Até nome do blog o Celso inventou: Blog do Raul Longo!
“Quem pensa que é Raul Longo para ser nome de blog?” Não penso nada! Quem pensou foi o Celso. Por mim jamais me meteria nesse assunto, apesar de todo mundo dizer que é fácil.
Fácil pra quem informática não se resume à máquina de escrever e telégrafo sem fio! Mas como já deu pra sentir que da aposentada Olivetti ao computador, a distância se aproxima a das cuneiformes escritas dos sumérios até a datilografia no teclado do italiano Pellegrini Turri (sim, consultar o Google e o Wikipédia também sei); resolvi aderir à evolução insistida pelo amigo. Mas não me acusem de autor intelectual.
Com a arma na mão, fiquei matutando. “E que crime cometo agora?”
Pra não desperdiçar munição, pedi pro Celso mesmo reciclar uns chumbinhos que andei disparando num abusado que se meteu a querer sujar o laguinho daqui da comunidade, só pra reafirmar desaforos. Mas depois da temporada de caça ao Eike Batista, com a grita do povo o galalau se escafedeu para outros confins e fiquei sem em quem praticar a mira. Ainda sem saber como recarregar o blog me deixei de tocaia, procurando bicho de maior porte, caça de mais sustança. Pensei até em deflagrar uma guerra geral, mas nesse meio tempo um australiano ousado tomou minha dianteira com um tal WikiLeaks que transformou a incipiente winchester do meu blog num papo-amarelo. Apesar de também saber como se consulta os dicionários, concluí que com essa hoploteca -- (arsenal, segundo o Houaiss, mas o Aurélio não registra. Ou um inventa ou o outro era analfabeto) -- mal chego a Stanley Burburinho. Quanto mais a Julian Assange!
Daí que fiquei vagando, moscando na mira, buscando um alvo, assuntando, rastreando... E achei! VOCÊ!
É! VOCÊ mesmo! Ou tem outro lendo por cima do seu cangote? O amorzinho que chamou pra ler esse maluco, tarado que sem mais aquela tá te apontando um blog carregado?!! Se tiver mais um aí contigo, perderam os dois!
Consciência ao alto que daqui pra frente meu assunto é contigo! Cansei de caça magra, raquítica! Essa gente pequena de carne dura e insípida. Cansei da rigidez de opiniões formadas por leituras de bula de remédio pra asma da alma e manual de instrução para consciências de laboratório midiático. Quem gosta de roer casco de tartaruga é jacaré e eu quero carne fresca, tenra, viva. Qualquer coisa que pulse! Exista por moto próprio!
Essa caça em que andei desperdiçando chumbo grosso pelos blogs de amigos e companheiros, era só por esporte, passatempo. Carne venosa, não serve pra consumo. Intoxica!
Então agora é com você mesmo!
Só que temos de fazer um trato: eu te caço, mas você é quem vai ter de me digerir. Vai ter de me mastigar com muita paciência, aprender dos meus sabores, reclamar do tempero, da consistência, textura e tudo mais.
Aí vai engolir pedacinho a pedacinho, palavra por palavra, parágrafo a parágrafo. Pode vomitar a vontade, tudo o que quiser! Ainda não sei como é se que faz isso e é você que vai ter de me ensinar o jeito para que você mesmo possa escrever direto pro blog. Vai ter de me ensinar tudo e com muita paciência, muita calma. Nada de bancar o afobadinho!
Não se esqueça de que não sei lidar com ela, mas sou quem tem a arma na mão. É como se dissessem: “- A grana ou a vida!” e você mais que depressa fosse logo passando a carteira, mas o assaltante exige que tenha calma, vá devagar e carregue o revólver, direcione a mira porque ele não enxerga, não sabe exatamente em que posição e direção você está.
Por mera vaidade você iria se aproveitar pra inverter a situação? Passar pelo vexame de ser o assaltado roubando assaltante cego? Fala sério!
Aqui é a mesma coisa. Cada um cumpre seu papel como em novela de televisão. Meu núcleo é dos blogueiros e o seu é dos blogados. Mas não se preocupe que seu nome vai aparecer em todos os créditos ao final do capítulo. Disso eu mesmo faço questão!
Até porque se der alguma merda, já logo dizendo: “A arma tava na minha mão, mas quem atirou foi a vítima!”
Não se preocupe que vai dar certo. Não viu aquele episódio da polícia de São Paulo que devolveu a refém pro bandido? Então! E eu prometo tudo: Ministério da Segurança Pública, bolsa blog triplicada, quantos professores em sala de aula quiser. O único detalhe é que é você quem vai de ter de ensinar, porque já disse que não sei nadica de nada.
É só você fica no seu papel sem jogar bolinha, porque isso de bolsa blog é na base do voluntariado compulsório.
E pra não tentar nenhuma bobagem, além de toda essa explicação do que tem de fazer, até me dei ao trabalho de inserir nessa primeira edição, de exemplo, um texto que produzi sobre o lançamento da biografia do meu amigo Atahaulpa.
Na hipótese de não conhecer o Athaualpa (também não se pode exigir demais), falei um pouco do Chico Buarque de Holanda. Esse você conhece? 
Tem também uma declaração de amor para uma senhora por quem sempre fui apaixonado: a cidade do Rio de Janeiro. E se ainda não sabe, aprenda: pode mexer com a mulher, mas não se meta com as amantes! Respeito é bom e eu gosto.
Pra você ter uma ideia do que poderá e deverá fazer, já pus aí a participação das primeiras vítimas deste blog: as Irmãs Coragem de Curitiba.
Não conhece as Irmãs Coragem? Pois vai ficar conhecendo. E elas vão conhecer você também, já que a ideia é essa mesma. Aqui somos nós e você. Nós, sou eu mesmo, e você é cada leitor. Você que está lendo e quem ainda não leu, mas vai ler porque você vai mandar que leia. Ninguém está aqui pra ficar perdendo de meu tempo.
Observe na colaboração das Irmãs Coragem que ao enviarem o link da matéria, sequer sabiam que estariam colaborando com blog nenhum. Internet é isso mesmo: caiu na rede é peixe.
E apesar da matéria ser do O Globo, o peixe é grande: Oscar Niemayer.
Pois é camarada... Pra ver que todo mundo tem de se virar! Acabou moleza! Agora até O Globo tem de promover comunista e intelectual de 103 anos de idade virar sambista.  Por isso, mexa essa consciência gorda! Quero ver todo mundo malhando no teclado!
Outra coisa: o blog quem fez foi o Celso Martins, amigo, vizinho e jornalista. Fez de companheiro que é e não posso ficar explorando o rapaz. Então quem vai mudar, dar cara nova, mais personalizada, deixar mais bonito e inventar novidades é você mesmo que não tô aqui pra por azeitona na sua empada.
Não precisa ter pressa! Me escreve, explica direitinho como é que tem de fazer, onde devo clicar, que programa usar. Se eu não tiver, manda o programa também ou diz como consigo. Tudo com muita calma e nada de apavoramento, porque se isso escorrega e escapa um tiro, uma bala perdida, não me responsabilizo.
Por falar em responsabilidade, esse nome que o Celso deu ao blog é muito comprometedor. Como é que me explico, depois?
Então Já tens aí uma tarefa! Arrume outro nome pro blog. Pra não ficar reclamando e dizer que estou sendo muito folgado, dou uma primeira sugestão: NÓS E VOCÊ.
Apesar de que estou no controle da situação, não precisa gostar. É só sugestão. Deixo você decidir e, de preferência, enviar outras sugestões para os outros de vocês decidirem. E sem reclamar  porque esse negócio de decidir não é meu papel.
Eu sou o Nós e não preciso decidir nada! Você é que se vire!
    

O MEU AMIGO ATAHUALPA
e uma pretensa definição de literatura
No mesmo dia em que recebo pelo correio eletrônico a imprecisa definição de que “literatura é a arte de escolher palavras”, de alguém se pretendendo crítico literário para tentar convencer que Chico Buarque de Holanda não é escritor; também recebo pelo postal a biografia do meu amigo Atahualpa.
Não sei se o meu amigo tem alguma descendência peruana, pois, conforme sua biógrafa, impossível determinar-lhe procedências dadas às insólitas e precárias condições de seu início de vida. Pelas bem definidas sobrancelhas, o vasto bigode e olhar profundo, sempre me fez lembrar Nietzsche, mas nem por isso o definiria de procedência germânica. Até porque nenhum alemão ou austríaco batizaria um filho como o nome de Atahualpa.
Para quem não sabe, Atahualpa é nome muito comum em todos os países de língua espanhola da América do Sul. Ou seja: menos o Brasil e as Guianas. Nós, colonizados pelos portugueses e as Guianas por ingleses, franceses e holandeses, naquela que hoje é conhecida por Suriname.
Talvez exista mais alguém com o nome de Atahualpa aqui no Brasil, além do meu amigo. Mas não conheço.
Provindo do quéchua, Ataw Wallpa foi o nome do mais importante entre os últimos imperadores Incas. Foi traído e aprisionado pelo conquistador espanhol Francisco Pizarro que ardilosamente convidou Atahualpa para um jantar amigável na cidade andina de Cajamarca. Em duas horas os cristãos trucidaram mais de 6 mil incas e Atahualpa foi aprisionado no Templo do Sol.
Em troca de sua liberdade Atahualpa entregou ao espanhol uma enorme quantia em ouro. Tanto, que preencheu o aposento em que era mantido prisioneiro, e ainda deu o dobro daquela quantia em prata. Mas o cristão não manteve a palavra e submeteu Atahualpa à farsa de um julgamento sob 12 acusações pelas quais foi condenado à fogueira.
No momento da execução Atahualpa aceitou o acordo imposto pelo padre Vicente Valverde e permitiu ser batizado como convertido ao deus e à religião católica, para logo em seguida ser executado por estrangulamento.
Isso foi em 26 de julho de 1533, mas não me consta que, apesar do pedido de desculpas aos judeus, algum papa tenha reconhecido os crimes da Igreja contra Incas, Astecas, Tupis, Guaranis ou tantos dos povos dizimados pelo cristianismo.
No entanto, tenho a impressão de que meu amigo Atahualpa está pouco se lixando para os papas. Mais que isso, creio mesmo que apesar da aparência física com o Nietzsche, superou o sábio alemão nesse sentido. Nietzsche costumava declarar que Deus está morto, Atahualpa certamente nunca acreditou na existência desse personagem e tão pouco faz questão de conferir a própria imagem e semelhança a qualquer divindade. Daí me parecer que mesmo que porventura admire a Nietzsche, não procura imitá-lo nem realçar a casual parecença.
Mas voltando ao herói e mártir Atahualpa, tornou-se um arquétipo da resistência sul americana ao colonialismo imposto ao continente ao longo dos últimos 500 anos, justificando os tantos Atahualpas da Patagônia ao Golfo de Urabá, ao norte da Colômbia, onde fazemos divisa com a América Central.
Héctor Roberto Chavero, por exemplo, nascido na província de Buenos Aires em 1908 e falecido em Paris em 1992, adotou como pseudônimo nome e sobrenome de Atahualpa que foi neto de Tupac Yupanqui. Como Atahualpa Yupanqui, Héctor Chavero se fez compositor, cantor, violinista e escritor argentino de renome internacional tal qual o Chico Buarque de Holanda, para desespero do crítico que inadvertidamente me enviaram pela internet.
A mãe de Atahualpa, Tocto Pala, não era inca. Mas por ter sido uma princesa equatoriana, natural de Quito, o nome do herói muito se propagou por aquele país, conforme nos conta o brasileiro Paulo de Carvalho Neto no excelente romance “Meu Tio Atahualpa”, onde reporta com muito humor a sabedoria da cultura popular equatoriana, assimilada quando ali representou o Brasil como diplomata.
Quanto ao Chico Buarque, ouvi dizer que sequer conheceu Budapeste embora um húngaro tenha me garantido que conseguiu reproduzir com muita fidelidade o clima humano da cidade. De fato, pelo menos para quem não conhece aquele trecho do Danúbio nem do lado Buda nem do lado Peste, ou quaisquer das outras margens do famoso rio, descreveu a capital da cultura dos magiares de forma muito convincente.
Mas o crítico não gostou e nem considera literatura. Tudo porque resolveu que Chico escolheu mal as palavras ao afirmar que o personagem do romance tenha assistido “por alto” a um noticiário de TV em idioma desconhecido, conforme explica a história de um fictício escritor que ali aportou por um imprevisto ocorrido durante uma viagem aérea.
Nem mesmo aos nossos noticiários consigo dar atenção, mas o crítico encasquetou que todos têm de levar tão a sério quanto ele as enormes bobagens da TV. Outros, como José Saramago, José Miguel Wisnik, Urariano Mota, Caetano Veloso e Luís Fernando Veríssimo; gostaram muito do Budapeste do Chico. Por certo também não dão muita atenção a TV ou não acreditam que produzir literatura seja apenas escolher palavras.
Seja lá o que for eu é que não seria besta de me pressupor capaz de criar definições para uma arte milenar que compreende tantos gêneros e expressões, inclusive sem palavra alguma como em histórias contadas por gestos, imagens e até por sombras, com conteúdo evidentemente literário.
Por outro lado, muito me orgulho em poder estrear este blog escrevendo sobre a biografia do meu amigo que acaba de ser lançada. Aliás, convém lembrar que Atahualpa também é um grande contador de histórias e a ele não fazem falta as palavras. Na última vez que esteve em minha casa, contou uma história tão intensa e emotiva à minha cachorra Canela que a fez correr pela casa pulando de sofá em sofá, como se estivesse conquistando uma selva.
Duvido que o crítico do Chico produza o mesmo efeito! E a julgar pelos caninos da Canela, seu poder de crítica é bem menos inócuo.
Mas é preciso falar do livro com capa ilustrada por um expressivo close fotográfico do biografado imitando Einstein ao mostrar a língua. Na verdade, ainda não li a obra, mas assim mesmo posso recomendá-la com total segurança e não apenas pela intrigante personalidade do personagem meu amigo como, sobretudo, pela certeza de que a autora não é apenas uma mera escolhedora de palavras, como quem cata arroz carunchado. Nas livrarias ou no portal da Livrarias Curitiba na internet (http://www.livrariascuritiba.com.br/)  consultem sobre o último lançamento de Urda Alice Klueger pela Editora Hemisfério Sul.
Em sua vaidade, Atahualpa não se deixaria contar por ninguém menos e isso também provocou o ciúme de Sandra Tolfo, que confessa: “Eu poderia escrever muita coisa sobre o Atahualpa. Poderia contar de nossas brincadeiras, de quando o ensinei a falar, das poses para as fotos, dos meus lanches divididos com ele, mas... essas memórias tomariam muito espaço”.
É certo que, igualmente, se denota aqui uma ponta de inveja, mas muito compreensível pela intimidade e o carinho da cientista social pelo Atahualpa. Aceitável, pois não se evidencia nenhum despeito, nenhuma dor de cotovelo.
Mas o que dizer do ridículo catador de palavras? Só mesmo escolhendo as do velho lugar comum, pois, enquanto os cães ladram, Atahualpa e Chico Buarque passam.

Às vésperas de seus 103 anos, Oscar Niemeyer se lança como compositor e faz música com Edu Krieger
http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/12/03/as-vesperas-de-seus-103-anos-oscar-niemeyer-se-lanca-como-compositor-faz-musica-com-edu-krieger-923177706.asp
enviado por: Izabel Aparecida Fernandes (do grupo Irmãs Coragem)



MEU SONHO CARIOCA
Amo o Rio
da rua,
da lua,
da morena,
loira, mulata
quase nua.
Da pelada
na praia,
e o grito que
lambe vontades:
“- Olha o picolé!”
Língua gelada
sorvendo imaginações
na espuma do chope
no bar da calçada...
Amo o Rio
nas curvas
das pedras nas calçadas
jogadas
em sinuosas
conversas
de azar e sorte.
Amo o Rio
de sul a norte,
por todas as zonas:
das cálidas à erógenas.
O Rio
do bicho de
cada sonho
de Janeiro,
no verão de
um ano inteiro.
Amo o Rio
das luzes de todas as noites,
e das liberalidades nos escurinhos.
Amo o Rio
mesmo sozinho,
mas mais saudade
tenho de liberalidades
de bronzeadas vaidades.

Entre Corcovado
e Pão de Açucar,
amo o Rio da Gávea à Urca.
Rio do ardente
Flamengo.
Ipanema nem se
fala!
Meier, Cadete.
Escadaria da Penha
e Pça Saenz Pena.
Amo qualquer Rio.
No Leblon
era muito bom,
mas Copacabana,
mentindo recato,
foi a mais sacana!
Amo o Rio
livre
e moleque
na saída da escola,
puxando trancinha
de Marianinha.
Rio menino
querendo atenção
no que mente o coração.
Rio que sobe
e desce
no limite da realidade,
onde a fantasia se estabelece
desenhando avenidas.
Rio de tantas vidas.
E antes que em tudo
se Botafogo,
me despacho aos Engenhos da Rainha,
e me dou à Leopoldina
até que um Cascadura
arrota a Madureira.
Escapo pra
Lapa pagando penitência
no regaço de Sta. Tereza.
Abençoado pecado!
Ah! Meu Rio de tantas certezas
por onde me enganei!
O Rio que eu sei.
Amo o Rio
incerto,
insólito,
onde a vida
é uma alegoria
a desfilar destaques
de uma noite
que não se fez,
num dia que não vem.
Meu Rio que vai
samba e volta harmonia
desce bossa e sobe alegria.
Amo o Rio
que chora
no olho da morena
esperando de março
à fevereiro
por um onipresente
Janeiro
de mornas vontades.
Meu Rio de tantas saudades.
Aquele Rio de todas
as anedotas,
de tantas lorotas.
Rio experto.
Rio otário.
Quem saberá
onde mora a verdade
em tal sonho
de cidade?
Amo o Rio
do asfalto
e do alto,
desenhando anoitecer
quando acabo de acordar
Inventando desanoitecer
na hora de deitar.

Rio fora do fuso horário
que me perde em passos bêbados e trôpego
que me encontra entre praias e aterros.
Túneis e escadarias.
Descaminhos
de intransponíveis lençóis
de Negras escorregadias
gotejando pelas siluetas
dos morros.
Loiras ou morenas defenestradas
- ao alto -
de janelas acenam adeuses
até descobrir-me o anjo torto,
roto e caído.
Lançado ao acaso
da madrugada
que no próximo bar
poderá ser o descanso
na cadeira mulata.
Ou pode ser o nada
do Rio de minha solidão.
O Rio da mágoa
nas tranças de Marianinha.
O Rio no sorriso
maroto
de Marianinha.
Amo todos os Rios!
De Janeiro a janeiro,
de Sul à Norte. 
Amo o Rio
onde madrugada
estala sem bala
e sem medo.
Perdida só a dor
da negra que me ignora
e, degrau a degrau,
pisa em minha ilusão.
Amo o Rio
da escada
de onde diviso
- lá! -
a benção e o abraço
ao encanto Guanabara!
Meu engano Guanabara.
Amo esse Rio
que me comove
a tanto de não
definir
- no sonho -
o bicho que vai dar,
o bicho que vai pegar.
Amo o Rio
do bicho que não deu.
O Rio
de todos os níveis
de meus sonhos
indefiníveis.
Parem com esse
pesadelo!
Preciso saber
em que bicho
jogar.
Parem  com esse
pesadelo!
No abraço do Cristo,
entre o Pão de Açúcar
e o Corcovado,
preciso
delineado o sorriso
entre tranças carapinhas
da menina Marianinha.
Parem com esse
pesadelo
para meu sonho
voar feito pipa,
gaivota
desenhando a paz
do riso da criança
e na esperança
do aposentado.
Parem com esse
azar!
 só você fica no seu papel sem jogar bolinha, porque isso de bolsa blog é na base do voluntariado compulsório.
E pra não tentar nenhuma bobagem, além de toda essa explicação do que tem de fazer, até me dei ao trabalho de inserir nessa primeira edição, de exemplo, um texto que produzi sobre o lançamento da biografia do meu amigo Atahaulpa.
Na hipótese de não conhecer o Athaualpa (também não se pode exigir demais), falei um pouco do Chico Buarque de Holanda. Esse você conhece? 
Tem também uma declaração de amor para uma senhora por quem sempre fui apaixonado: a cidade do Rio de Janeiro. E se ainda não sabe, aprenda: pode mexer com a mulher, mas não se meta com as amantes! Respeito é bom e eu gosto.
Pra você ter uma ideia do que poderá e deverá fazer, já pus aí a participação das primeiras vítimas deste blog: as Irmãs Coragem de Curitiba.
Não conhece as Irmãs Coragem? Pois vai ficar conhecendo. E elas vão conhecer você também, já que a ideia é essa mesma. Aqui somos nós e você. Nós, sou eu mesmo, e você é cada leitor. Você que está lendo e quem ainda não leu, mas vai ler porque você vai mandar que leia. Ninguém está aqui pra ficar perdendo de meu tempo.
Observe na colaboração das Irmãs Coragem que ao enviarem o link da matéria, sequer sabiam que estariam colaborando com blog nenhum. Internet é isso mesmo: caiu na rede é peixe.
E apesar da matéria ser do O Globo, o peixe é grande: Oscar Niemayer.
Pois é camarada... Pra ver que todo mundo tem de se virar! Acabou moleza! Agora até O Globo tem de promover comunista e intelectual de 103 anos de idade virar sambista.  Por isso, mexa essa consciência gorda! Quero ver todo mundo malhando no teclado!
Outra coisa: o blog quem fez foi o Celso Martins, amigo, vizinho e jornalista. Fez de companheiro que é e não posso ficar explorando o rapaz. Então quem vai mudar, dar cara nova, mais personalizada, deixar mais bonito e inventar novidades é você mesmo que não tô aqui pra por azeitona na sua empada.
Não precisa ter pressa! Me escreve, explica direitinho como é que tem de fazer, onde devo clicar, que programa usar. Se eu não tiver, manda o programa também ou diz como consigo. Tudo com muita calma e nada de apavoramento, porque se isso escorrega e escapa um tiro, uma bala perdida, não me responsabilizo.
Por falar em responsabilidade, esse nome que o Celso deu ao blog é muito comprometedor. Como é que me explico, depois?
Então Já tens aí uma tarefa! Arrume outro nome pro blog. Pra não ficar reclamando e dizer que estou sendo muito folgado, dou uma primeira sugestão: NÓS E VOCÊ.
Apesar de que estou no controle da situação, não precisa gostar. É só sugestão. Deixo você decidir e, de preferência, enviar outras sugestões para os outros de vocês decidirem. E sem reclamar  porque esse negócio de decidir não é meu papel.
Eu sou o Nós e não preciso decidir nada! Você é que se vire!
    

O MEU AMIGO ATAHUALPA
e uma pretensa definição de literatura
No mesmo dia em que recebo pelo correio eletrônico a imprecisa definição de que “literatura é a arte de escolher palavras”, de alguém se pretendendo crítico literário para tentar convencer que Chico Buarque de Holanda não é escritor; também recebo pelo postal a biografia do meu amigo Atahualpa.
Não sei se o meu amigo tem alguma descendência peruana, pois, conforme sua biógrafa, impossível determinar-lhe procedências dadas às insólitas e precárias condições de seu início de vida. Pelas bem definidas sobrancelhas, o vasto bigode e olhar profundo, sempre me fez lembrar Nietzsche, mas nem por isso o definiria de procedência germânica. Até porque nenhum alemão ou austríaco batizaria um filho como o nome de Atahualpa.
Para quem não sabe, Atahualpa é nome muito comum em todos os países de língua espanhola da América do Sul. Ou seja: menos o Brasil e as Guianas. Nós, colonizados pelos portugueses e as Guianas por ingleses, franceses e holandeses, naquela que hoje é conhecida por Suriname.
Talvez exista mais alguém com o nome de Atahualpa aqui no Brasil, além do meu amigo. Mas não conheço.
Provindo do quéchua, Ataw Wallpa foi o nome do mais importante entre os últimos imperadores Incas. Foi traído e aprisionado pelo conquistador espanhol Francisco Pizarro que ardilosamente convidou Atahualpa para um jantar amigável na cidade andina de Cajamarca. Em duas horas os cristãos trucidaram mais de 6 mil incas e Atahualpa foi aprisionado no Templo do Sol.
Em troca de sua liberdade Atahualpa entregou ao espanhol uma enorme quantia em ouro. Tanto, que preencheu o aposento em que era mantido prisioneiro, e ainda deu o dobro daquela quantia em prata. Mas o cristão não manteve a palavra e submeteu Atahualpa à farsa de um julgamento sob 12 acusações pelas quais foi condenado à fogueira.
No momento da execução Atahualpa aceitou o acordo imposto pelo padre Vicente Valverde e permitiu ser batizado como convertido ao deus e à religião católica, para logo em seguida ser executado por estrangulamento.
Isso foi em 26 de julho de 1533, mas não me consta que, apesar do pedido de desculpas aos judeus, algum papa tenha reconhecido os crimes da Igreja contra Incas, Astecas, Tupis, Guaranis ou tantos dos povos dizimados pelo cristianismo.
No entanto, tenho a impressão de que meu amigo Atahualpa está pouco se lixando para os papas. Mais que isso, creio mesmo que apesar da aparência física com o Nietzsche, superou o sábio alemão nesse sentido. Nietzsche costumava declarar que Deus está morto, Atahualpa certamente nunca acreditou na existência desse personagem e tão pouco faz questão de conferir a própria imagem e semelhança a qualquer divindade. Daí me parecer que mesmo que porventura admire a Nietzsche, não procura imitá-lo nem realçar a casual parecença.
Mas voltando ao herói e mártir Atahualpa, tornou-se um arquétipo da resistência sul americana ao colonialismo imposto ao continente ao longo dos últimos 500 anos, justificando os tantos Atahualpas da Patagônia ao Golfo de Urabá, ao norte da Colômbia, onde fazemos divisa com a América Central.
Héctor Roberto Chavero, por exemplo, nascido na província de Buenos Aires em 1908 e falecido em Paris em 1992, adotou como pseudônimo nome e sobrenome de Atahualpa que foi neto de Tupac Yupanqui. Como Atahualpa Yupanqui, Héctor Chavero se fez compositor, cantor, violinista e escritor argentino de renome internacional tal qual o Chico Buarque de Holanda, para desespero do crítico que inadvertidamente me enviaram pela internet.
A mãe de Atahualpa, Tocto Pala, não era inca. Mas por ter sido uma princesa equatoriana, natural de Quito, o nome do herói muito se propagou por aquele país, conforme nos conta o brasileiro Paulo de Carvalho Neto no excelente romance “Meu Tio Atahualpa”, onde reporta com muito humor a sabedoria da cultura popular equatoriana, assimilada quando ali representou o Brasil como diplomata.
Quanto ao Chico Buarque, ouvi dizer que sequer conheceu Budapeste embora um húngaro tenha me garantido que conseguiu reproduzir com muita fidelidade o clima humano da cidade. De fato, pelo menos para quem não conhece aquele trecho do Danúbio nem do lado Buda nem do lado Peste, ou quaisquer das outras margens do famoso rio, descreveu a capital da cultura dos magiares de forma muito convincente.
Mas o crítico não gostou e nem considera literatura. Tudo porque resolveu que Chico escolheu mal as palavras ao afirmar que o personagem do romance tenha assistido “por alto” a um noticiário de TV em idioma desconhecido, conforme explica a história de um fictício escritor que ali aportou por um imprevisto ocorrido durante uma viagem aérea.
Nem mesmo aos nossos noticiários consigo dar atenção, mas o crítico encasquetou que todos têm de levar tão a sério quanto ele as enormes bobagens da TV. Outros, como José Saramago, José Miguel Wisnik, Urariano Mota, Caetano Veloso e Luís Fernando Veríssimo; gostaram muito do Budapeste do Chico. Por certo também não dão muita atenção a TV ou não acreditam que produzir literatura seja apenas escolher palavras.
Seja lá o que for eu é que não seria besta de me pressupor capaz de criar definições para uma arte milenar que compreende tantos gêneros e expressões, inclusive sem palavra alguma como em histórias contadas por gestos, imagens e até por sombras, com conteúdo evidentemente literário.
Por outro lado, muito me orgulho em poder estrear este blog escrevendo sobre a biografia do meu amigo que acaba de ser lançada. Aliás, convém lembrar que Atahualpa também é um grande contador de histórias e a ele não fazem falta as palavras. Na última vez que esteve em minha casa, contou uma história tão intensa e emotiva à minha cachorra Canela que a fez correr pela casa pulando de sofá em sofá, como se estivesse conquistando uma selva.
Duvido que o crítico do Chico produza o mesmo efeito! E a julgar pelos caninos da Canela, seu poder de crítica é bem menos inócuo.
Mas é preciso falar do livro com capa ilustrada por um expressivo close fotográfico do biografado imitando Einstein ao mostrar a língua. Na verdade, ainda não li a obra, mas assim mesmo posso recomendá-la com total segurança e não apenas pela intrigante personalidade do personagem meu amigo como, sobretudo, pela certeza de que a autora não é apenas uma mera escolhedora de palavras, como quem cata arroz carunchado. Nas livrarias ou no portal da Livrarias Curitiba na internet (http://www.livrariascuritiba.com.br/)  consultem sobre o último lançamento de Urda Alice Klueger pela Editora Hemisfério Sul.
Em sua vaidade, Atahualpa não se deixaria contar por ninguém menos e isso também provocou o ciúme de Sandra Tolfo, que confessa: “Eu poderia escrever muita coisa sobre o Atahualpa. Poderia contar de nossas brincadeiras, de quando o ensinei a falar, das poses para as fotos, dos meus lanches divididos com ele, mas... essas memórias tomariam muito espaço”.
É certo que, igualmente, se denota aqui uma ponta de inveja, mas muito compreensível pela intimidade e o carinho da cientista social pelo Atahualpa. Aceitável, pois não se evidencia nenhum despeito, nenhuma dor de cotovelo.
Mas o que dizer do ridículo catador de palavras? Só mesmo escolhendo as do velho lugar comum, pois, enquanto os cães ladram, Atahualpa e Chico Buarque passam.

Às vésperas de seus 103 anos, Oscar Niemeyer se lança como compositor e faz música com Edu Krieger
http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/12/03/as-vesperas-de-seus-103-anos-oscar-niemeyer-se-lanca-como-compositor-faz-musica-com-edu-krieger-923177706.asp
enviado por: Izabel Aparecida Fernandes (do grupo Irmãs Coragem)



MEU SONHO CARIOCA
Amo o Rio
da rua,
da lua,
da morena,
loira, mulata
quase nua.
Da pelada
na praia,
e o grito que
lambe vontades:
“- Olha o picolé!”
Língua gelada
sorvendo imaginações
na espuma do chope
no bar da calçada...
Amo o Rio
nas curvas
das pedras nas calçadas
jogadas
em sinuosas
conversas
de azar e sorte.
Amo o Rio
de sul a norte,
por todas as zonas:
das cálidas à erógenas.
O Rio
do bicho de
cada sonho
de Janeiro,
no verão de
um ano inteiro.
Amo o Rio
das luzes de todas as noites,
e das liberalidades nos escurinhos.
Amo o Rio
mesmo sozinho,
mas mais saudade
tenho de liberalidades
de bronzeadas vaidades.

Entre Corcovado
e Pão de Açucar,
amo o Rio da Gávea à Urca.
Rio do ardente
Flamengo.
Ipanema nem se
fala!
Meier, Cadete.
Escadaria da Penha
e Pça Saenz Pena.
Amo qualquer Rio.
No Leblon
era muito bom,
mas Copacabana,
mentindo recato,
foi a mais sacana!
Amo o Rio
livre
e moleque
na saída da escola,
puxando trancinha
de Marianinha.
Rio menino
querendo atenção
no que mente o coração.
Rio que sobe
e desce
no limite da realidade,
onde a fantasia se estabelece
desenhando avenidas.
Rio de tantas vidas.
E antes que em tudo
se Botafogo,
me despacho aos Engenhos da Rainha,
e me dou à Leopoldina
até que um Cascadura
arrota a Madureira.
Escapo pra
Lapa pagando penitência
no regaço de Sta. Tereza.
Abençoado pecado!
Ah! Meu Rio de tantas certezas
por onde me enganei!
O Rio que eu sei.
Amo o Rio
incerto,
insólito,
onde a vida
é uma alegoria
a desfilar destaques
de uma noite
que não se fez,
num dia que não vem.
Meu Rio que vai
samba e volta harmonia
desce bossa e sobe alegria.
Amo o Rio
que chora
no olho da morena
esperando de março
à fevereiro
por um onipresente
Janeiro
de mornas vontades.
Meu Rio de tantas saudades.
Aquele Rio de todas
as anedotas,
de tantas lorotas.
Rio experto.
Rio otário.
Quem saberá
onde mora a verdade
em tal sonho
de cidade?
Amo o Rio
do asfalto
e do alto,
desenhando anoitecer
quando acabo de acordar
Inventando desanoitecer
na hora de deitar.

Rio fora do fuso horário
que me perde em passos bêbados e trôpego
que me encontra entre praias e aterros.
Túneis e escadarias.
Descaminhos
de intransponíveis lençóis
de Negras escorregadias
gotejando pelas siluetas
dos morros.
Loiras ou morenas defenestradas
- ao alto -
de janelas acenam adeuses
até descobrir-me o anjo torto,
roto e caído.
Lançado ao acaso
da madrugada
que no próximo bar
poderá ser o descanso
na cadeira mulata.
Ou pode ser o nada
do Rio de minha solidão.
O Rio da mágoa
nas tranças de Marianinha.
O Rio no sorriso
maroto
de Marianinha.
Amo todos os Rios!
De Janeiro a janeiro,
de Sul à Norte. 
Amo o Rio
onde madrugada
estala sem bala
e sem medo.
Perdida só a dor
da negra que me ignora
e, degrau a degrau,
pisa em minha ilusão.
Amo o Rio
da escada
de onde diviso
- lá! -
a benção e o abraço
ao encanto Guanabara!
Meu engano Guanabara.
Amo esse Rio
que me comove
a tanto de não
definir
- no sonho -
o bicho que vai dar,
o bicho que vai pegar.
Amo o Rio
do bicho que não deu.
O Rio
de todos os níveis
de meus sonhos
indefiníveis.
Parem com esse
pesadelo!
Preciso saber
em que bicho
jogar.
Parem  com esse
pesadelo!
No abraço do Cristo,
entre o Pão de Açúcar
e o Corcovado,
preciso
delineado o sorriso
entre tranças carapinhas
da menina Marianinha.
Parem com esse
pesadelo
para meu sonho
voar feito pipa,
gaivota
desenhando a paz
do riso da criança
e na esperança
do aposentado.
Parem com esse
azar!
Quero sonhar
meu Rio de Janeiro.

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